EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: EXPERIÊNCIAS E LIÇÕES DE VIDA

EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: EXPERIÊNCIAS E LIÇÕES DE VIDA

Outubro 15, 2020 Comentários fechados em EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: EXPERIÊNCIAS E LIÇÕES DE VIDA By Soweto*#%!

EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA: EXPERIÊNCIAS E LIÇÕES DE VIDA

O filme “Minha História” protagonizado por Michele Obama configurou-se uma estratégia de aglutinação do nosso grupo de amigas “Confraria”, a fim de levantar aspectos relatados pela ex- dama dos Estados Unidos que tivessem sido marcantes na percepção de cada uma de nós.

Pareceu-nos uma percepção unânime o reconhecimento de que a pessoa de Michele Obama marcou positivamente a vida de muitas mulheres, negras certamente, mas brancas também, tanto nos EUA, como nos países por onde ela andou.  Essa influência foi evidenciada na trajetória educacional, profissional e de ativismo que ela decidiu envolver-se no período de oito anos que esteve na Casa Branca. Assim decidimos analisar a importância da educação enquanto ferramenta de “ascensão”, “libertação”, “conscientização”, “empoderamento” e “protagonismo” de mulheres negras em particular, e da população negra de maneira geral.

No filme os detalhes são menores, porém importantes para revelar que ela desde muito pequena demonstrava uma personalidade forte, confiante e desafiadora, em busca de experiências, habilidades que lhe interessassem. Foi assim na escola básica, na secundária e nas universidades. Em todas essas experiências ela teve a sorte de encontrar profissionais sensíveis, dedicados e comprometidos com o seu mais amplo desenvolvimento como pessoa, aluna e profissional. Assim, a educação que ela obteve, ainda que impregnada de deficiências, preconceitos, conservadorismo, racismo e sexismo, pode ser apropriada como um instrumento de ascensão, conscientização e protagonismo. Podemos reconhecer, em alguns momentos, certo “idealismo”, sustentado pela lógica capitalista, imperialista e individualista do estado americano. Apesar disso, também podemos constatar a importância da representatividade que a sua atuação alcançou no período, para a população negra em particular, para as mulheres, para os jovens homens e mulheres, e para as mulheres jovens afro-americanas, latino-americanas e afro-europeias. Se confortarmos essa experiência com a discussão de Joyce Berth sobre empoderamento, poderíamos reconhecer que Michele alcançou, desfrutou e experimentou um nível individual de conscientização e libertação, sustentado por uma emancipação intelectual e expressiva autoestima, capaz de influenciar os seus pares. Contudo, não foi suficiente para alcançar o coletivo, numa perspectiva processual mais ampla, dirigida a diversas frentes de atuação. Dessa forma, a educação mesmo se constituindo em uma estratégia de reprodução do racismo e do sexismo, com toda a sua nocividade, ainda é um instrumento necessário para que a população negra e população a feminina possa se utilizar para alcançar condições de menor desigualdade na sociedade. Lélia Gonzalez teria expressado o seu entendimento de que “apesar da nocividade”, a instituição educacional formal serve ao propósito da apropriação de conhecimentos e vislumbre de lugares e de pessoas de referências.  As professoras Petronilha, Nilma e o professor Kabenguele apontam a educação como necessária, estratégica para alcançar mudanças, porém não de forma isolada. Ela felizmente, não é o único espaço de “formação” dos sujeitos. Os demais espaços sociais cumprem paralelamente, ou majoritariamente o papel necessário para incorporação de saberes, valores, resgate histórico e construção de “trajetórias” que sirvam de referencias. Poderia citar Carlos Brandão que se refere à educação como “inevitável”. Discute ainda que a educação é maior do que o controle formal sobre a educação e, se em algum lugar ela serve à reprodução, em outro pode servir à criação da igualdade. Para Silvio Almeida “as instituições são feitas por nós”, portanto é preciso “educar alunos e professores” para projetos transformadores. Já a professora Analu Sousa reconhece que há muito material produzido sobre as relações étnico-raciais para a educação básica, mas que é necessário “olharmos” essa produção segundo uma proposição que denominou “Identificadores da Qualidade na Educação” e relações raciais na Escola, o qual contém sete eixos. Dos sete, destacaria a intencionalidade de “olhar com lupa” por onde o racismo “caminha” dentro da Escola, observando relacionamentos e atitudes de todos os envolvidos na comunidade escolar até o território.

ALVA HELENA DE ALMEIDA

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