
Retrato é reflexo
Retrato é reflexo
de Augusta Santo
Nossos passos vêm de longe,
E nosso percurso não é solitário,
Nossos sonhos,
Ressoam para além das fronteiras.
Da primeira a derradeira
Guerreiras que tecem o tempo
Com fios de resiliência
Sororidade e persistência
Nossas vozes ecoam
Como vento e tempestade
Uma canção de ninar
Ó cirandeira, ó cirandeira ó…
Conta história
Que o amor preservou
Libertou do eco do opressor
Nosso protagonismo
É como ponte
Fio de esperança que alinhava as estações
A vitória de uma
Faz caminho pra tantas
Nosso retrato é reflexo da história
Ara e semeia a terra
Promove a paz em tempos de guerra
Nosso querer não é o tempo com cifrão
O tempo que fragmenta o tempo
É como fênix
Reconstrói e recompõe
Natureza fértil
Terra no cio
Alma feminina
A distância que envolve o destino
Revela sabedoria dos tempos das Yabás
Semeada reinventada
Anunciada
Como canção
Corrente de oração
Grito na multidão
Somos todas marias
E sozinha ninguém fica
A pegada de uma é a passada da outra.

Augusta Santo: poetiza, mãe, assistente social, integrante do Grupo de Estudos das Relações Étnico raciais no Serviço Social – GERESS e parceira da SOWETO. A autora se Inspirou no artigo de Gevanilda Santos “Caminhando ao encontro da contemporaneidade da luta da mulher negra”. Ver MNU – a resistência nas ruas Ennio Brauns, Gevanilda Santos e Jose Adão de Oliveira (org.) São Paulo, Fundação Perseu Abramo: Edições Sesc 2020. Apoio Cultural Soweto Organização Negra.