
Nossa Marcha vem de longe!
A 18ª Marcha da Consciência Negra acontecerá no 20 de novembro, a partir das 12h., no MASP/SP. Nossa marcha é apenas uma forma de dizer, isto porque, nós, negros e negras, estamos em marcha a mais de 500 anos, marchando, correndo, muitas vezes trotando, puxando carros boi. Sobre chicotes antigos e os contemporâneos, aqui estamos na luta, na marcha nossa de todo dia.

Inúmeras são as nossas formas de luta, outrora fugindo das laçadas de capturação na África, feito gado.
No navio negreiro, fingindo-se saudável evitando ser lançado ao mar por estar acometido de alguma doença ou peste, não apto para tranco que enfrentaria. Desmaiando de fome, em silêncio forçado ou gritando na sua língua, sem ser ouvido, sem ser entendido. Às vezes se tornando jantar de peixes.

Os negros trazidos de África não falavam o mesmo dialeto, a mesma língua. Uma velha tática dos traficantes de gente. Falar a mesma língua foi e continua sendo um risco, uma situação perigosa, temerosa. Falar a mesma língua facilita organização. Organização é sinônimo de poder, de força que pode fazer ruir, jogar por terra estruturas maléficas, seculares ou não. As Marchas da Consciência Negra estão aí para dizer que se organizar é preciso e é possível. Lembrem-se: muitos de nós falamos a mesma língua, a língua de quem persegue, busca, um mundo de justiça, respeito e direitos para com todos: negros, brancos, indígenas, amarelos e indefinidos. Isso é Ubuntu.
Estes são alguns fragmentos dessa dor histórica, a qual parcela de brancos, negros e outros preferem desconhecer. Suspeito que dentre estes está Sérgio Camargo, o negro sem cor, cujas declarações a respeito da história de mais de 53% da população brasileira, segundo o último censo, ele despreza, desconstrói. Isso está em suas infames declarações, as quais me recuso a repetir. Companheiros da Fundação Palmares: fiquem firmes, dias melhores se aproximam.
A organização negra vem de longe, das senzalas, dos eitos, dos engenhos, dos quilombos, de séculos passados, da Frente Negra, da Marinha, do movimento negro contemporâneo, das entidades, dos coletivos, das periferias, até mesmo dos espaços oficiais de privação de liberdade, onde muitas vezes o negro está simplesmente por ser negro.
O negro no Brasil não está aqui de graça, a passeio. Faz parte desse povo, dessa nação. Sua contribuição se faz presente no trabalho pesado ou não, nas múltiplas artes, na culinária, na literatura, na arquitetura, no direito, na medicina, no serviço social, na enfermagem, no transporte, no esporte, na comunicação, na ciência, nos inventos, nas teses, nos escritos, nos ensaios, em outros e muitas outras. O negro compõe e alimenta as raízes culturais desta nação. Se mais não fez ou faz porque foi e continua atado. O racismo estrutural, institucional, social e as inúmeras práticas preconceituosas são as algemas, travas nossa de cada dia. Mas, mesmo que demore muito tudo ruir.
Venham conosco à 18ª Marcha da Consciência Negra.

Lina Rosa – Vice Presidenta
Jornalista formada pela Universidade Metodista
linarosanegra@gmail.com