A SOWETO visita Quilombo de Cafundó

A SOWETO visita Quilombo de Cafundó

Junho 10, 2022 Comentários fechados em A SOWETO visita Quilombo de Cafundó By Soweto*#%!

Lina Rosa*

No sábado, 28 de maio/2022, a SOWETO Organização Negra visitou o Quilombo de Cafundó, no município de Salto de Pirapora, SP.  Este Quilombo, que tem uma história de luta secular por seus direitos, luta esta que vem desde o período escravocrata, que para maioria dos afrodescentes brasileiros (53%, segundo IBGE) não acabou. É luta permanente, deste e de outros quilombos Brasil afora. Cada qual com sua luta de cada região, luta de cada dia, de cada século.

Cartaz Acervo Cafundó
Entronização do mastro da Santa Cruz

Na ocasião, a coordenação do Quilombo de Cafundó realizou a tradicional Festa da Santa Cruz, que reuniu não só moradores da região, assim como Instituições como a Soweto, Sá Menina, Organizações e Coletivos do Movimento Negro, Grupo de Estudantes da USP e outras/os. A festa de Santa Cruz, que é realizada a cerca de 150 anos. Além das manifestações religiosas, cheias de sincretismo, traz manifestações culturais, danças como a Capoeira, Jongo etc. A expressão da culinária negra nesta festa ficou por conta de uma disputada e gostosa feijoada. O artesanato, também, presente com peças relativas à cultura negra e regional.

A Soweto levou além de seus membros, e por seu intermédio, as estudantes Maria Alejandra Mora e Isabela Felicitar Rowers, da Rice University, USA, que estão fazendo uma espécie de imersão na realidade brasileira, principalmente no que tange às questões raciais. Segundo Alejandra, apoiada por Isabela, a participação naquelas festividades foi muito gratificante, fazendo-as se sentirem privilegiadas pela aquisição de parte do conhecimento de quem é e como vive a população negra no Brasil.

SOWETO chegando no Cafundó – da direita para esquerda: Vanderli, Lina, Andrea, Alejandra, Toninho, Regina, Romildo, Augusta, Alva Helena, Isabela, Iano.OBS.: Também, compondo a delegação Soweto, estavam Lucas e Paulo Rafael.

Sobre um pouco da história do Quilombo do Cafundó, deixamos por conta de Regina Aparecida Pereira, da coordenação geral do evento e deste Quilombo, num depoimento concedido à Alva Helena de Almeida, atual presidente da Soweto Organização Negra. Abaixo a íntegra da fala de Regina:

Da direita para esquerda: Vanderli, Regina, Alva Helena

[…] “Acabei abraçando o legado da Dona Cida, para a preservação do Cafundó, nas festas, nas tradições, para manter viva a história do Cafundó, que era o que ela fazia. Vim com uma missão, vim conhecer o Cafundó e já faz 19 anos que estou aqui. Essa festa, até onde conseguimos levantar, ela tem uns 150 anos, mas ela tem mais que isso!! A família da Dona Cida veio para cá em 1876, 12 anos antes da Abolição, temos isso em registro. O Joaquim Congo que foi o ancestral desse pessoal que está aqui hoje, foi liberto da Fazenda onde ele vivia, e o fazendeiro dividiu as terras; a família do Joaquim Congo veio para cá e aqui permaneceram. A nossa matriarca foi a vó Efigênia – que era filha do Joaquim Congo, foi ela que lutos pelas terras, lutou pela língua, foi ela que construiu essa Capela (Santa Cruz). A gente dá continuidade à luta dela, se não fosse a luta dela não estaríamos aqui hoje, principalmente a questão das terras. Antes dela morrer, ela pediu para os filhos e netos que não deixassem a terra e nem deixassem de falar a língua – herança do pai dela – “Kimbundo”. Os filhos e netos mantiveram isso até hoje. Hoje só temos 02 netos que falam a língua fluentemente (Marcos e Juvenil), a maioria conhece, mas só eles falam. Foi através dessa língua que o Quilombo foi reconhecido pelo Governo Federal, e acabou sendo desapropriado e devolvido as terras para a comunidade. Hoje tentamos fazer um trabalho de preservação e resgate, principalmente com os jovens, foi através dessa língua que conseguimos trazer em 2015 o Consul de Angola, Sr. Belo Mangueira, veio reconhecer a comunidade, reconhecer a língua, algumas tradições que são mantidas aqui e em Angola e, recentemente, tivemos a visita da nova Consulesa, Dra.Estela, veio dia 01 de maio, e agora vamos ganhar cidadania Angolana. Na 1ª. Semana de julho vamos receber a visita do Embaixador de Angola, eles querem colocar o Cafundó como Patrimônio Cultural de Angola, pelas identificações que eles fizeram, de tudo que se mantém aqui, e eu recebi na semana passada o título de Rainha Nzinga, pela preservação da cultura Angolana aqui na Comunidade. Não é um título para a Regina, mas para toda a comunidade, para todas as mulheres negras que lutam não só no Quilombo, em todos os lugares onde a gente está. Estou no Quilombo, mas vim de uma periferia, e a gente sabe que não é fácil, ser negra, ser mulher, ser mãe, se comprometer com uma luta.

PARABÉNS!! É uma honraria conversar com a Senhora!!! (Alva)”

A Soweto retornou do Cafundó feliz com o que viu e participou, prometendo retornar nos próximos anos. Saiba mais: Buscando Quilombo de Cafundó nas Redes Sociais. Há muita coisa boa e bonita de ver.

Fotos de: Toninho, Alva, Fernando, Romildo

Lina Rosa*
Jornalista aposentada e educadora social na ativa.
Membro da diretoria Soweto
linarosanegra@gmail.com

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