MNU – A RESISTÊNCIA NAS RUAS

MNU – A RESISTÊNCIA NAS RUAS

Setembro 21, 2022 Comentários fechados em MNU – A RESISTÊNCIA NAS RUAS By Soweto*#%!

Debate sobre o livro MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO A RESISTÊNCIA NAS RUAS
Local: Auditório SESC Pinheiros, dia 16 de agosto de 2022.
Mediador: Paulo Rafael da Silva
Oradores: Rafael Pinto e Suelma de Deus
Intervenção Musical: Panikinho, Amabile Inaê. Tita Reis e Alddry Eloise

 “Este livro retrata,
por meio de fotos, testemunhos,
manifestos e artigos,
a história do Movimento Negro Unificado (MNU)
 uma das principais frentes organizadas
contra o racismo e a segregação sociorracial”
(texto 4ª capa)

O relançamento do livro do Movimento Negro Unificado (MNU), ocorrido de forma presencial nas dependências do SESC Pinheiros, em 16 de agosto de 2022, representou uma viajem no tempo da história do movimento negro paulista e brasileiro. O poema Soweto, musicado por Tita Reis, foi adotado como Hino da Soweto Organização Negra, por ocasião do seu 30º aniversário. A organização do evento foi da Soweto Organização Negra e parceiros como o SESC, Sá Menina, Mc Panik, articulados pelo educador, historiador, escritor Paulo Rafael, contemplou importantes dimensões da luta política de enfrentamento ao racismo no país.

Paulo Rafael fez a abertura do evento estabelecendo com leveza a ligação entre o passado e o presente, apontando a continuidade dos processos de lutas protagonizados pela população negra e a insurgência de novas vozes e linguagens, ainda que as pautas se mantenham ao longo do tempo.

Da esquerda para direita: Rafael Pinto, Suelma de Deus, Paulo Rafael da Silva

Antecedendo a fala dos oradores, apreciamos a apresentação cultural DiasporÓpera Rap, performada pelo Mc Panik, a cantora Amabile Inaê, arranjo de Giovani Di Ganzá e percussão de Leandro Vieira. Tratou-se de uma fusão experimental entre o canto popular e a musicalidade das manifestações de matriz africana, articulando rimas (poesia) e o Xirê em homenagem a Exu. Nada mais resistente do que abrir os trabalhos com Exu.

Da esquerda para direita a cantora Amabile Inaê e o Mc Panikinho (Gildean Silva)

Paulo Rafael cedeu a palavra para o educador Rafael Pinto, um dos fundadores do MNU, que alinhavou através da oralidade, momentos, cenários e protagonistas históricos do movimento negro, não somente o paulista, a partir das décadas de 50 e 60, pontuando também as relações intergeracionais construídas por ele, Milton Barbosa e outros ativistas dos anos 70 e 80. Essa característica, de continuidade, de interface entre os sujeitos, os tempos históricos e as ações ficou bastante evidenciada por Rafael, ressaltando a resistência do povo negro e o vanguardismo dos ativistas no enfrentamento do racismo.

Rafael Pinto, educador, fundador do Movimento Negro Unificado

Um segundo momento cultural foi protagonizado pelo músico Tita Reis, acompanhando a cantora Alldry Eloise, de belíssima voz, que apresentou uma canção homenageando Yansã. Seguindo sua performance, Tita Reis revelou o contexto em que conheceu o poema de Romildo Ibeji, nomeado O Levante, referindo-se aos eventos de Soweto, África do Sul.

Da esquerda para direita o músico, compositor Tita Reis e a cantora 
Alldry Eloise

A segunda oradora foi a educadora, assistente social, diretora da Soweto, Suelma Inês de Deus, que complementou a retrospectiva desse processo histórico ao reconhecer e valorizar o protagonismo das mulheres negras e suas demandas específicas para o movimento negro e para o movimento de mulheres, citando alguns nomes como o de Fátima Barbosa, Leny Blue entre outras.  A educadora ainda ressaltou, em particular, o processo de envelhecimento da população negra, e as relações intergeracionais representadas pelos descendentes, jovens ativistas, que no presente desfrutam das conquistas alcançadas, atuam em diferentes campos produtivos, fazendo uso de novas linguagens tecnológicas e culturais, concernentes aos dias de hoje.

Suelma Inês de Deus, educadora, assistente social, uma das fundadoras da Soweto

Depois das considerações finais, caminhamos para o encerramento do evento, ouvindo o poema Soweto também escrito por Romildo Ibeji, musicado e cantado por Tita Reis, com intensa participação do público. A ênfase dada ao nome Soweto se justifica pela alusão O Levante, referência aos eventos de Soweto, para o qual compôs a 犀利士 melodia apresentada.

O nome SOWETO Organização Negra tem origem no chamado Levante de Soweto, organizado por jovens que lutavam contra o regime apartheid na África do Sul. Regime este responsável por inúmeros assassinatos, torturas e prisões de negros que reagiam contra aquelas atrocidades. Exemplo disso, ícone da luta contra o racismo, temos o ativista Nelson Mandela, preso por anos, que resistiu a tudo e vindo a se tornar presidente daquele país africano (1994 a 1999). Em 1993, foi o vencedor do Prêmio Nobel da Paz. (www.soweto.org.br).

Na plateia estiveram presentes outros ativistas como José Adão, homenageado no livro, Márcio Barbosa um dos organizadores dos Cadernos Negros, Regina Helena que integrou os Blocos Alafiá, Osriashe e atualmente, o Bloco Ilú Obá de Min. Joselicio Junior, jornalista, Kelly Adriano da Coordenação SESC, e integrantes da Nova Frente Negra Brasileira, entre outros antigos e novos ativistas, pesquisadores e seus descendentes, o que reafirmou a importância da realização do evento e desse registro. 

A energia do evento inspirou o nosso poeta Romildo Ibeji, que rapidamente produziu uma estrutura de linguagem, reafirmando a magnitude do evento.

Ontem a noite trazia um filme, um encontro a reproduzir os momentos de lutas que marcam todos os diários enfretamentos de busca por humanidade e liberdade.

Juntos e misturados, gosto muito desta frase do irmão Paulão, mediador deste evento maravilhoso no auditório do terceiro andar do SESC PINHEIROS, com tantos protagonistas ou todos, todas e todes também, os depoimentos de Rafael Pinto e Suelma de Deus proporcionaram uma viagem nas linhas do tempo que demarcam nossos Aquilombamentos por equidade e contra o racismo imperioso que nega reconhecer nossas qualidades e multipluralidades na busca por qualidade de vida e acesso as condições de valorização em qualquer setor de formação da sociedade brasileira; econômico, político, cultural, educacional, social, saúde pelo Bem VIVER, e etc.

As intervenções artísticas de uma beleza mostrando conexões das pluralidades das linguagens que declamam, cantam e interseccionam sagrado com buscas para organizações políticas de  direitos humanos nesta sociedade brasileira que nos nega todos os dias o acesso à qualidade de vida, a luta pela verdadeira abolição, com leis de reparação, nos guia através dos Griôs e Yabás…

Audre, Tita, Panikinho, gostaria de estar com o nome de todas as estrelas que fizeram do palco um terreiro a cantar a beleza da cultura Preta, arquitetada na criatividade de não silenciar nunca a nossa VOZ, arte, cultura e política…

VIVA OS 4O ANOS DO MNU E VIVA OS 31 ANOS DA SOWETO organização negra…

insights do ontem à noite…

Romildo Ibeji…

Artistas: 
Mc Panikinho (rimas), Amabile Inaê (canto), Giovani Di Ganzá (violão), Leandro Vieira (percussão).
Tita Reis (cantor, compositor), Allldry Eloise (cantora, compositora).


Sobre o livro:

O livro Movimento Negro Unificado a Resistência Nas Ruas teve como organizadores: Ennio Brauns, Gevanilda Santos, José Adão de Oliveira e foi patrocinado pelas Edições SESC e FPA, em 2020, com apoio da Soweto Organização Negra que cedeu materiais do seu acervo e atuou como comissão editorial desta publicação.  O livro foi lançado de forma virtual em 2021, em decorrência das normas sanitárias no contexto da Pandemia da Covid19.

Alva Helena de Almeida

alvahelenavi@gmail.com

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