O NOVEMBRO É NEGRO
*Gevanilda Santos
Neste ano de 2022, o clima do novembro negro é de alegria e resistência. Uma vez mais o bloco antirracista sairá às ruas. Desde a decretação do 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra (1979) – o Movimento Negro em todo o Brasil convida a população a sair às ruas nesta data em celebração a luta de Zumbi e Dandara dos Palmares e em protesto aos perrengues da fome, da violência e do desrespeito.
No Brasil, não é mais novidade que as desigualdades de raça, classe e gênero afligem e castigam as mulheres, as crianças, e a juventude negra das regiões periféricas brasileiras. Muitos já se foram. Basta de genocídio!… Sabemos que nem todos padecem da mesma forma. Passada a fase mais aguda da pandemia da Covid-19, a população negra empobrecida, enfrenta o aumento da vulnerabilidade.
Nem todos têm as mesmas oportunidades e acesso às políticas públicas e sociais, sobretudo, a população nordestina, que segundo o IBGE é negra e parda, e, devido à desigualdade regional brasileira é a parcela mais vulnerabilizada. E ainda é alvo do racismo e da xenofobia por sua compreensão do acirramento da luta de classe e elevado grau da consciência étnica.
O Nordeste não está sozinho! Junte-se a nós.
Nos últimos 40 anos, o Movimento Negro Brasileiro se fortaleceu e pavimentou fortemente o caminho da resistência nas ruas.
Nas eleições de 2022, este segmento disse não às propostas conservadoras e fascistas, e, sim, ao terceiro governo LULA. Oxalá… os compromissos de campanhas sejam honrados. Estaremos nas ruas para garanti-los. A esperança venceu o medo.
Neste novembro negro estamos celebrando com olhos bem abertos e indagando: como implementar os direitos da população negra inscritos na constituição? Como radicalizar a democracia para que ela avance da representatividade da democracia formal para a uma democracia substantiva, distributiva e real?
Há mais de 40 anos fala-se da necessidade da formação de quadro na luta contra o racismo. A tarefa foi cumprida, ampliamos o convencimento, a reflexão e a consciência, de modo que cada um possa despertar o guerreiro “Zumbi” e a guerreira “Dandara” que há dentro de si. O objetivo era agregar o outro a outra, de acolher dentre os que atuam na perspectiva da mudança do cenário racista, machista homofóbico e das intolerâncias. Sempre cabe mais uma e/ou um na barca de Zumbi e Dandara. A formação de quadro é tarefa permanente e dinâmica. À frente da etapa da formação de quadros há a etapa da massificação da luta nas ruas.
Convidamos todas e todos das ruas, becos, vielas, quebradas, grotões, e, também os que habitam o território da cultura, da educação, as redes de saúde, os movimentos sociais, representantes antirracistas da classe trabalhadora e todas as etnias a construirmos a tão almejada unidade na diversidade.
Aí sim. chegaremos no tempo efetivo das mudanças, onde a negra e o negro no poder trarão mudanças a toda coletividade.
Bem-vinda a etapa das mudanças. São complexas, porém não inatingíveis!
Já dissemos que a superação do racismo, do machismo e da pobreza não é tarefa apenas de negros e negras. É uma tarefa dos cidadãos, cidadãs e do Estado Democrático Brasileiro. É tarefa dos movimentos sociais, de todos e todas conscientes e dispostos a combater as mazelas sociais, lado a lado das instituições construtoras de uma sociedade democrática.
Já dizia Hamilton Cardoso, jornalista e ativista antirracista paulista: “haverá de chegar o dia em que a consciência negra será nacional, pluriétnica e conduzida por negros e negras críticos ao capitalismo. O futuro já chegou?
Se o recado do protesto negro vem das ruas, no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, ouçamos o seu brado retumbante, e, uma vez mais vamos botar o bloco antirracista nas ruas.
*Gevanilda Santos
É graduada em História e mestre em Sociologia Política pela PUC-SP, professora universitária aposentada, pesquisadora das relações sociorraciais e ativista da Soweto Organização Negra.