A negação do dia 13 de maio
por *Gevanilda Santos
Quem se importa com o 13 de maio?
O Movimento Negro Brasileiro se importa e estimula os progressistas a prestar atenção na data e no seu significado. Há pessoas, grupos, coletivos e governos que celebram a data. Outros repudiam a data oficial e fortalecem o novo significado. A negação do 13 de maio ocorreu para evidenciar que no Brasil o racismo é estrutural. Compreendem e agem desde os anos de 1970 para repudiar o 13 de maio e não celebram a data nem reconhecem a Princesa Isabel como a redentora da abolição da escravatura. Atuaram, redefiniram o sentido falsário da abolição da escravatura e chamaram atenção para os dias após o 13 de maio, a exemplo o dia 14 de maio, e os anos vindouros de onde emergiram a discriminação e o racismo no mercado de trabalho, na educação, na saúde, na cultura na relação da sociedade e no sistema de poder. Por isso afirmam que o 13 de maio é a data da reflexão dos 136 anos da abolição inconclusa ou inacabada… Ela foi e é inacabada por que não ofereceu moradia digna, trabalho justo, terra para as comunidades nem respeito à identidade afro-brasileira.
Na década de 1970, o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNUCDR) e as organizações que surgiram posteriormente, redefiniram e atuaram para redefinir o dia 13 de maio como o Dia nacional de denúncia contra o racismo e para atingir os objetivos de luta:
1. questionar o mito da democracia racial e;
2. desmistificar o papel da Princesa Isabel na Abolição;
3. consagrar a resistência nas ruas e na luta dos quilombolas por sua liberdade e direitos.
Sucesso total na nova versão da história. A Princesa Isabel saiu da cena histórica e entrou Zumbi e Dandara. O 13 de maio foi transformado no Dia Nacional de denúncia contra o racismo.
A realidade da relação racial nos faz entender que o mito da democracia racial está decaindo a cada dia, no âmbito nacional e internacional, frente à constatação social do genocídio contra a juventude negra, contra os imigrantes africanos, contra as mulheres negras e contra toda população negra na diáspora.
Setores do Movimento Negro Brasileiro das diferentes regiões brasileiras, a exemplo da Bahia, estão inseridos no rol daqueles que discordam da importância que a história oficial impõe a data ao valorizar atitude da Princesa Isabel e desacreditar a resistência negra por liberdade e libertação frente à subalternidade nas relações de raça, classe e gênero.
Hoje passados quase cinco décadas, apesar dos diferentes ritmos da resistência negra nas ruas do Brasil, se reconhece que o questionamento à data foi uma atitude positiva.
Atualmente, nesta data, o professor que disser em sala de aula que a princesa Isabel foi à redentora da escravidão ou que sua ação benevolente libertou os negros do sistema escravocrata (Lei Áurea de 13 de maio de 1888), certamente, será confrontado em pensamentos ou palavras por historiadores, educadores, estudantes, pais e comunidade engajada na luta contra o racismo.
A lei 10.639/ 2003 está em vigor e dá suporte ao educador para contar ou recontar a resistência negra na história da África e dos negros no Brasil.
Talvez os meios de comunicação de massa, tais como a televisão brasileira, não pautem a data nem repercutam o tom de repúdio definido pelo Movimento Negro Brasileiro. Já sabemos que esta é a sua prática social porque veiculam informação imprecisa e alienante. Atuam como instrumento de dominação da classe popular e favorável aos interesses das elites.
Os veículos de comunicação independentes e os internautas ligados à resistência nas ruas repercutirão o repúdio e seus significados e muitos saberão que o dia 13 de Maio é o dia nacional de denúncia contra o racismo. Cumprirão o seu importante papel de educador social, na medida em que levam a informação construtiva aos trabalhadores e trabalhadoras e à sociedade. Traduzem os dados estatísticos e sofisticados ao nível da compreensão dos brasileiros. Sabem que o receptor da informação é um setor com analfabetismo funcional e político alto. Que padecem devido à população, o povo brasileiro ou a massa não tiver uma educação integral de qualidade por que a política pública é sucateada em nome dos interesses dos donos da educação privada. Os professores em greve compreendem bem esta pauta
Quem se importa com o 13 de maio? O Movimento Negro Brasileiro ao lado dos progressistas se importam e redefinem a data na luta de resistência nacional. O13 de maio é o dia nacional da denuncia contra o racismo. Ao afirmar a permanência do racismo estrutural e institucional não se quer desgastar o governo popular que aí está, ele é nosso, mas sim afirmar o papel crítico da educação de combate ao racismo, seja nas instituições públicas, seja nos meios de comunicação modernos.
Axé, alafia, amém, salamaleico, paz e bem viver a toda população.
*Gevanilda Santos:
É graduada em História e mestre em Sociologia Política pela PUC-SP, professora universitária, pesquisadora das relações sociorraciais brasileiras e integra o núcleo de.
Colaboradores da Soweto Organização Negra
Texto revisado por Lina Rosa: Jornalista / Educadora Social e Diretora da Soweto Organização NEGRA
Postado pela Agência ColorSide